quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Perdi uma batalha, mas a guerra tá no papo...

Como vocês já sabiam hoje seria o grande dia. Fiz o tal exame de fundo de olho e ultrassom também. A quimio deu resultado, o monstro caranguejo dimimuiu mas... continua sentado em cima do nervo ótico. Por isso os médicos acharam mais seguro fazer uma tal de enucleação. Pra quem não sabe o que é, essa é uma cirurgia pra retirar meu globo ocular e, com ele, o monstro caranguejo. Segurem os queixos e não façam drama porque a mamãe odeia! Vou ficar sem meu olhinho direito, sim. Mas vou ficar vivo e mandar esse monstro pras cucuias! Bem que eu queria manter olho, mesmo com a pouca visão, mas seria um risco muito grande porque o caranguejão podia começar a esticar as patas pelo nervo ótico e atingir o sistema nervoso central. Fico nervoso só de pensar nisso!
Então terça-feira vou ser internado e na quarta faço a cirurgia. Depois que tiver sarado, vou colocar uma prótese igualzinha ao meu olho e sair por aí piscando pras gatinhas. Vou até perguntar pra doutora Martha se não posso botar uma prótese azul e uma lente azul no meu olho bom pra ficar ainda mais parecido com um anjinho... (Brincadeirinha)
Depois de tirarem meu olho vão examiná-lo bem direitinho e ver se ainda preciso fazer quimioterapia, mas eu aposto que não vai precisar, não. Daí vou poder voltar logo pra minha casa em Teresina, que eu já tô com muita saudade de lá.
Eu sei que essa história de usar prótese parece um lance meio punk hard core trash metal, mas na real não deve ser, não. No hospital conheci várias crianças que usam prótese e elas nem parecem se importar com isso. Na verdade, elas nem lembram de quando tinham os dois olhos, então pra elas é como se tivessem nascido com aquele olho falso. E pra mim vai ser assim também. Meus pais já disseram que não vão me alisar por causa disso: vou levar bronca, palmada, castigo, tudo o que eu merecer independente da prótese. Então nem adianta eu querer fazer chantagem emocional porque já vi que não vai colar. E eu sei que eles vão ficar tiririca da vida se alguém me tratar como pobrezinho-caolhinho-sofredor. Então tá dado o recado: não preciso de pena, não preciso ser tratado diferente das outras crianças. E como bem diz a sabedoria popular, coitado é filho de rato que nasce pelado!
Ah! Adivinha de que eu vou me fantasiar no carnaval? De pirata, claro!!!!!!!!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Em compasso de espera


Hoje não tô com muita vontade de escrever, não. É que amanhã vou fazer exame de fundo de olho pra avaliar como o tumor está reagindo à quimioterapia. Daí os médicos vão decidir como seguir com meu tratamento. Pra fazer o tal exame, tenho que tomar anestesia e por isso preciso ficar em jejum por oito longas horas. Vocês podem imaginar o que é isso pra um menino comilão como eu? Por isso estou de mau humor! Vou deixar apenas uma foto minha com meu primo Davi tirada há mais ou menos um mês atrás. Todo mundo na torcida amanhã, tá?

sábado, 24 de novembro de 2007

Passada rápida para dar notícias

Eu estou ótimo! Minha avó foi embora terça de manhã e eu fiquei com muita saudade, mas me comportei direitinho e cuidei da minha mãe, afinal ficamos só eu e ela. Nem calundú eu dei mais. Na quarta eu tive uma febre e a mamãe ficou muito preocupada e correu comigo pro hospital. Fiz todos os exames e a médica deixou eu vir pra casa porque estava tudo bem comigo. Minha imunidade é mesmo dura na queda porque não caiu nadinha. A médica disse que eu só tinha que voltar ao hospital se eu tivesse febre de novo. E é claro que eu não tive, né?
Meus padrinhos (tio Ziza e tia Vanessa) chegaram aqui ontem e já nos divertimos muito. Fomos passear a tarde e o tio Dudu veio encontrar com a gente. A gente saiu pra jantar e depois voltamos pra casa. O tio Guga veio aqui também todos esses dias.
Eu estou mesmo muito bem. A única coisa que me incomoda é a saudade do meu pai e dos meus irmãos, mas na próxima semana meu pai já chega aqui trazendo o Pedro pra gente brincar muuuuito. Eu sei que vocês devem estar se perguntando, por isso vou logo responder: não, meu cabelo de anjinho não caiu... ainda. Não que eu me importe, afinal é dos carecas que elas gostam mais, mas parece que meu cabelo também é duro na queda, assim como minha imunidade. Depois posto algumas fotos.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Dicionário de Antoniês

Já fazia um tempo que eu não vinha aqui, né? É que como minha avó tá aqui, todo dia a gente sai pra fazer algum programa. Até ensaio pra coroinha de missa eu já fiz, levando pão para o altar na Igreja de Nossa Senhora Achiropita, no Bixiga. É, eu tenho ido a muitos lugares legais, minha saúde tá ótima. Só meu humor que varia, sabe? Quando tô com sono ou cansado, abro o berreiro e faço um escândalo que a mamãe já apelidou de O Exorcista. É que eu jogo a cabeça pra trás, berro, balanço a cabeça, cuspo, me jogo no chão, reviro os olhos... Hollywood tá perdendo tamanho talento! Só pra mexer com meu pai, fiz um escândalo desses uma hora antes de ele ir pro aeroporto, na quinta-feira. Claro que ele quase desiste da viagem. Só saiu depois que me deixou dormindo. A minha mãe é mais difícil de enrolar e por isso minhas encenações do Exorcista estão ficando menos frequentes. Que pena! Eu adoro brincar de controle remoto com meus pais!
Mas vamos ao título desse post. Como vocês sabem, só tenho um ano e cinco meses, mas estou ficando muito esperto, falando um monte de palavras. Tudo bem que quase ninguém consegue entender, mas eu entendo tudinho que falam pra mim. Saca ai meu dicionário:
- Au-au - conceito amplo que vai de cachorro a qualquer outro bicho de quatro patas e inclui até os Popozudos da Caixa. Uso também pra dizer que quero ir pra varanda, olhar os cachorros passarem na rua.
- Piá - passear. Já acordo gritando essa palavrinha, porque sou mesmo muito rueiro (a quem será que eu puxei?). Costuma surtir efeito quando usado no repeat: piá piá piá piá piá.
- Quer - serve pra tudo: comida, brinquedo, louças quebráveis... basta apontar o dedinho em direção ao objeto do desejo, ao mesmo tempo em que pronuncio a palavra mágica.
- Mamãe - essa eu aprendi a falar diretinho aqui em São Paulo. Em Teresina, eu dizia manhêêêê, imitando o Zé Luiz e o Pedro.
- Papai - falei essa pela primeira vez semana passada, dentro da minha estratégia de não deixar o papai ir embora. Não funcionou, mas ele viajou com o coração na mão.
- Agum - significa água ou qualquer outro líquido para beber.
- Aô - é o que as pessoas grandes chamam de alô. Serve pra mostrar o telefone, o fone do computador ou pra avisar minha mãe que o telefone tá tocando.
- Chá-chá - essa também é das antigas; eu já falava em Teresina. É aquele negócio que serve pra fechar e abrir portas (de carro, do apartamento, etc.) Mal entro no prédio e já viro pro Ricardo, da portaria, e digo "chá-chá"!
- Ôôôôô - significa acabou (o suco, a comida do prato, etc.) Normalmente acompanha um olhar de decepção.
- Sei! (assim mesmo, com exclamação) - quer dizer "achei". É usado quando acho uma coisa que não deveria ter achado. Por exemplo, meus lencinhos umedecidos (que eu arranco um por um), o hipoglós (que eu adoro comer e lambuzar a cara).
- Nenê - sou eu, claro! Pensou que fosse quem?
Essa semana falei também minha primeira frase: "Quer au-au". Não vi grande vantagem nisso, mas a mamãe e a vovó ficaram super felizes porque eu consegui juntar um tal de verbo com um objeto. Mãe é bicho besta e avó é mais ainda.
Falando em avó... A minha avó Ceiça vai embora amanhã cedinho. O resto da semana vou ficar só com minha mãe. Ela já disse que eu tenho que colaborar, me comportar direitinho, não encenar O Exorcista... Não sei se vou seguir todas as recomendações. Mas prometo que vou tentar. Pelo menos até sexta-feira quando meus padrinhos chegam aqui.
E hoje é aniversário do meu avô Renildo. Não falei com ele no telefone porque só falo quando não tem ninguém na linha. Quando tem outra pessoa falando fico só escutando e "assuntando", e esqueço que sei dizer "aô".
Agora vou dormir porque amanhã é feriado aqui e eu vou pra casa da tia Geórgia brincar com meu priminho Davi.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Antonio 2 x Quimioterapia 0

Viram o placar aí em cima? Pois é, esses últimos dias têm sido muito bons para mim. É tanta coisa legal que vou fazer que nem minha mãe - escrever uma lista:
1. Na segunda-feira eu disse papai pela primeira vez. Ao contrário do que minha mãe dizia, eu não vou chamar meu pai de "não é a mamãe" só porque ele me chama de Baby da Silva Sauro.
2. Também na segunda, tive consulta com a dra. Viviane e fiz exames de sangue. Adivinha? Tudo beleza! Meu sangue só não tá melhor porque não é azul!
3. Tive uma febrezinha na segunda-feira. Claro que essa não é uma notícia boa. Notícia ótima é que a febre passou e os exames de terça-feira confirmaram que eu estou bem demais.
4. Minha avó Ceiça chegou na terça à tarde pra passar uma semana comigo. Eu tava morrendo de saudades dela!
5. Eu acho que minha avó pensava que em São Paulo não tem comida porque ela trouxe tanta coisa de Teresina... Paçoca, manga, lagarto, tamarindo, caju, arroz com galinha, maria isabel... A culinária de microondas da minha mãe ficou humilhada!
6. Além de comidas, minha avó trouxe pra mim presentes (dela, da minha avó Bel, dos amigos, das tias) e muito pensamento positivo dos amigos e familiares lá de Teresina. Valeu, galera!
7. Minha avó me contou que vamos passar o Natal juntos aqui em São Paulo: eu, meus pais, meus irmãos, a vovó Ceiça, o vovô Bira, o tio Guga, a tia Ângela, e os meus padrinhos: tio Ziza e tia Vanessa.
8. Hoje foi minha segunda sessão de quimio e eu, novamente, não senti nadinha. Como diria o Zé Luiz: "ÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ, MUITO BEM, VOCÊ TÁ DE PARABÉNS!"
9. Eu tô desconfiado que tão botando Biotônico Fontoura com Óleo de Fígado de Bacalhau no meu soro, porque eu tô comendo desesperadamente desde que entrei no hospital hoje de manhã. As enfermeiras devem tá pensando que meus pais não me dão comida em casa!
10. Amanhã devo ter alta. Afinal minha avó tá aqui e eu quero muito ir passear com ela, né?
11. Entre tantas boas notícias, só uma ruim: meu pai vai voltar pra Teresina amanhã. Logo quando eu consegui falar "papai"! Mas o bom é que ele volta no início de dezembro trazendo o Pedroca.

domingo, 11 de novembro de 2007

Só boas notícias

Meu final de semana foi muuuuuito bom! Ontem (sábado) fui pra casa da tia Geórgia e do tio Henrique com meus pais. Lá é muito legal: tem meu primo Davi, muitos brinquedos e um parquinho bacana bem pertinho. Eu passeei de carrinho, fui ao parque, brinquei no balanço, andei de bicicleta com meu pai. Ainda bem que o clima ajudou e deu pra gente ficar um bom tempo ao ar livre!
Nós dormimos lá e hoje de manhã eu fui ao parque de novo com meus pais. Depois almoçamos na casa da vovó Silvia. Na verdade ela é avó do Davi. Mas ela é bem legal como minhas avós, e dá todo o apoio pra mim e meus pais. O tio Guga tanbém foi almoçar lá e depois trouxe a gente pra casa.
Quando chegamos em casa, meus pais resolveram ir à feirinha do Bixiga, que é aqui pertinho. Mas acredita que foi só a gente botar o pé fora de casa pra começar a chover? É, o clima aqui em São Paulo é muito complicado!
Agora a noite meus pais me contaram duas boas notícias: minha avó Ceiça vai chegar terça-feira e meu irmão Pedro vai vir no dia 03 de dezembro! Com essas novidades, vou dormir bem feliz!

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Se ela dança, eu danço...

Vocês sabem qual é minha nova moda? Dançar! Basta ouvir uma música na TV, ou minha mãe assobiando, que eu começo a dançar, balançando o bumbum pra cima e pra baixo. Minha mãe hoje se empolgou com minha performance e baixou umas músicas de quando ela criança, dum tal de Balão Mágico e também da Arca de Noé, e nós dançamos até não poder mais! Como ela e meu pai já tavam mesmo no embalo, ela resolveu botar também as músicas do tempo em que ela ia pra Aquarius toda sexta-feira e dançava até ficar com o corpo doído. Aí eu inventei uns passos maneiros e chacoalhei o esqueleto! Quando eu ficar bom e voltar pra Teresina, vou querer uma festa com muita música pra eu dançar bastante. Até lá, vou ficar por aqui treinando meus passos!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Agora é vida normal, sim!

Hoje fui ao hospital pra fazer exames de sangue, raio-x e consulta com dra. Luciana. Os resultados não podiam ser melhores! Não tenho mais nenhuma infecção, meu peito tá limpinho, eu não preciso mais tomar remédio no caninho e só tenho que voltar ao hospital na próxima segunda-feira pra ser reavaliado pra quimio de quarta. Até a agulha do caninho já tiraram e eu posso finalmente andar sem blusa. (Meus pais me obrigavam a andar de blusa mesmo em casa com medo de que eu arrancasse a agulha do catéter. Acredita numa maldade dessas?)
Continuo com uma alergia boba que vai e volta, mas tô tomando o remédio em casa. Parece que agora, finalmente, vou ter a tal vida normal que me prometeram entre as sessões de quimioterapia. Pra comemorar, meu tio Henrique vem me pegar em casa pra gente ir pro shopping. A mamãe resolveu não ir porque teve insônia noite passada, mas eu vou com meu pai, tio Henrique, tia Geórgia e Davi.
Continuem torcendo e rezando daí porque daqui eu vou fazendo minha parte: comendo como um leão e fazendo tudo o que as médicas mandam (sob protesto, mas fazendo!).

domingo, 4 de novembro de 2007

Rotina

O final de semana já tá terminando e eu ainda não tinha vindo aqui escrever. É que eu estou tendo uma vida "quase" normal - o quase fica por conta de ter que ir ao hospital todo dia pra tomar remédio no caninho. Mas até isso já terminou hoje. Amanhã tenho consulta no hospital e a dra. Clara vai dizer se devo tomar o remedinho mais uns dias ou não.
Voltou a chover em São Paulo e por isso meus pais não puderam me levar a nenhum passeio ao ar livre. Aí a tia Ira nos levou pro shopping Ibirapuera. Lá eu almocei e passeei de carinho. Eu queria mesmo era ir ao parquinho, mas por causa da tal da imunidade meus pais não deixaram de jeito nenhum! "Imagina, aquele parque cheio de crianças espalhando vírus!" Eu acho que pai e mãe gostam mesmo é de dizer a palavra NÃO, e quando eles têm o apoio e incentivo daquele pessoal de branco, aí eles ficam mesmo impossíveis!
Quando chegamos do shopping, meus pais cismaram que eu tava com umas pintas vermelhas na pele. Adivinha pra onde fomos? Hospital, claro! A dra. Cecília me examinou e disse que era uma alergia. Então estou tomando outro remedinho. Eu perguntei pra dra. Cecília se eu não podia logo me mudar pr'aquele hospital, porque toda hora eu tenho que ir lá, mas ela também não entende a língua dos bebês. Pelo visto, os pediatras não fazem provas de proficiência em língua de bebês, né?
Hoje, além da chuva, a cidade está bem fria. Então nada de passeio. Só fui ao hospital tomar remédio. Essa rotina já tá ficando um pouco chata, sabe? Vamos ver se na consulta de amanhã a barrigudinha resolve me liberar por pelo menos uma semana antes da próxima quimio.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Feriado

Hoje é feriado pra todo mundo, menos pra mim. Tive que ir ao hospital de novo pra tomar meu remedinho. Fui de manhã com o papai. A mamãe ficou em casa se aventurando em culinária de microondas. Até que os resultados não estão assim tão desastrosos!
À tarde, depois da minha sonequinha, meu tio Guga veio aqui e levou a gente pra passear. Fomos ao parque Ibirapuera. Eu adorei! Corri na grama, vi muitos au-aus e passeei de carrinho. Tava fazendo um calorão, parecia até Teresina! Depois fomos ao Habib`s e eu comi tanto que o tio Guga pensou que eu tava passando fome em casa.
Agora à noite caiu uma chuvinha e tá gostoso pra dormir. Vou deitar. Boa noite.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Sem tempo

Faz uns dias que não escrevo aqui, né? É porque desde que eu saí do hospital, não acho tempo pra atualizar o blog. Todo dia meus pais inventam alguma coisa pra gente fazer, sem contar que todo dia tenho que ir ao hospital de manhã pra tomar o remédio no caninho do meu peito. Ontem a tarde fui passer aqui por perto com o papai e a mamãe. Fui no meu carrinho, observando a rua e procurando os au-au. A gente até achou um pracinha com playground e muitas crianças brincando. Nessas horas eu até esqueço que tô aqui pra lutar e penso que tô só passeando com papai e mamãe.
Hoje o único passeio foi o hospital, porque a tarde choveu e não deu pra sair de casa. O clima aqui é meio louco mesmo: quatro estações num dia só. Mas o mais legal foi que hoje fiz exame de sangue (tirar o sangue não é legal!!!!) e a médica disse que minhas defesas só caíram um pouquinho, e olha que já faz oito dias que fiz a quimio.
Quem deve tá começando a ficar baqueado é o monstro caranguejo, sabia? Ele já sentiu que eu não tô pra brincadeira!