terça-feira, 30 de outubro de 2007

Tive alta!!!

Voltei pra casa!!!! Quer dizer, não pra minha casa de Teresina, mas pra minha casa de São Paulo. Como eu já estava há três dias sem febre, e já tô respirando bem melhor, resolveram me liberar pra ir embora. Agora tenho que ir no hospital todo dia pra tomar o remédio no caninho do meu peito e também pra fazer fisioterapia, até domingo. Ah! E também tenho que continuar fazendo aquela fumacinha em casa. Depois posso voltar à minha vidinha normal de menino de 1 ano. Do hospital, só vou sentir falta da escolinha. Lá as crianças maiores têm aulas pra não perderem o ano na escola. Mas como eu ainda não estudo, eu ficava lá brincando com um montão de brinquedos que eles têm e ouvindo das professoras coisas como "lindo", "anjinho" e "fofo".
Falando em brinquedo... Ontem a tia Mayra e o tio Jover, lá de Brasília, me visitaram e me deram um brinquedo de madeira bem legal. Quem gostou mesmo foi minha mãe porque eu tinha ganhado uma bola pula-pula de uma contadora de histórias e eu só queria brincar de jogar a bola da cama pra minha mãe e meu pai pegarem. Não sei porque eles não gostavam muito dessa brincadeira e ficaram muito aliviados quando eu comecei a brincar com meu brinquedo novo! Outra visita que eu recebi ontem foi do tio Guga, que aliás me visita quase todo dia! Meu quarto lá do hospital era bem animado mesmo!
A tia Ira, amiga da minha mãe, foi também me visitar hoje, mas quando ela chegou a gente já tava saindo e ela trouxe a gente pra casa. Ela brincou muito comigo à tarde. Ela é pediatra, mas é legal: não mandou me furar, não me apertou, não me cutucou.
Fiquei tão excitado porque voltei pra casa, que não dormi o dia inteiro! Agora tá batendo aquele sono... Boa noite.

domingo, 28 de outubro de 2007

Ainda no hospital

Como eu disse no post anterior, a mamãe e o papai me obrigaram a vir ao hospital de pijamas. Eles disseram que seria rapidinho, só pra doutora Viviane me examinar por causa da febre. Pois o rapidinho dura até hoje, acredita? Se tem uma coisa que eu já aprendi sobre esse hospital é que as visitas nunca são rapidinhas.
Eu acho isso uma grande sacanagem: resisti bravamente à quimioterapia e agora uma bacteriazinha besta me faz voltar ao hospital. Ontem tive uma febre alta, mas logo ela passou e não voltou mais. Mas o que eu tô gostando mesmo é das visitas da fisioterapeuta Patrícia. Ela vem ao meu quarto e fica fazendo massagem nas minhas costas e eu fico com cara de milionário no Club Med, sabe como é? Só que ontem a noite me apareceu um fisioterapeuta chamado Anderson querendo fazer massagem em mim. Não deixei mesmo! Gritei que queria a Patrícia, mas ele nem tchuns, continuou tentando fazer massagem em mim. Só hoje de manhã a Patrícia voltou e aí eu deixei ela fazer fisio em mim.
Já estou há mais de 24 horas sem febre. A barrigudinha dra. Clara disse que esse é um bom sinal mas (aqui sempre tem um mas), só posso ir pra casa depois que as vampiras de branco tirarem meu sangue e constatarem que não tem mais nem sinal de bichinho. Até lá eu fico aqui no hospital, mas nem é tão ruim assim. Eu nunca tinha tido meus pais só pra mim 24 horas por dia, então tô aproveitando pra ficar beeeem estragado. Faço manha por tudo, choro sem uma lágrima, reviro os olhos.. Espetáculo global!
Bom também é receber visitas. Ontem a tia Geórgia, tio Henrique e Davi vieram me visitar. O Davi até almoçou aqui junto comigo. Foi bem legal, igual a quando eu tava na casa dele (só que sem os tapas!). Hoje de manhã veio aqui a tia Adriana (amiga da mamãe lá de Teresina), o tio Gustavo e uns amigos deles daqui de São Paulo, que disseram que podem ajudar a gente no que precisar. Meus pais estão mesmo se cercando de gente legal por aqui, né?
Já jantei, tomei banho e estou todo bonito e cheiroso esperando o tio Guga vir me visitar.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Não se pode elogiar...

Olha só o que me aconteceu: fui fobar que não sentia nada com a quimioterapia e um virusinho besta de gripe me trouxe de volta ao hospital! Eu não sou de me deixar derrubar por besteira, não. Mas é que essa gripezinha safada vem me atormentando há dias. Hoje acordei com febre e meus pais acharam melhor correr comigo pro hospital. Quando eu digo correr, é correr mesmo, porque nem meu pijama minha mãe me deixou trocar. Imagina aí o mico? Logo de manhã queo o ambulatório de pediatria é lotada de gatinhas!
Quando chegamos ao hospital começou de novo a sessão tortura, com a tropa de branco, mas agora elas estão mais comedidas, parece que perderam o interesse em me furar. Afinal, a dra. Clara descobriu que eu tô com uma pneumonia no pulmão direito e que é melhor eu ficar aqui no hospital de novo pra tomar uns remedinhos e fazer fisioterapia e etc, porque eu passei a tarde toda molinho de febre.
Então aqui estou eu, de novo, vestindo meu pijama dos Power Rangers e esperando o rango da noite chegar.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Quimioterapia

Que nome feio esse, né? Pois é. Mas na real essa tal de quimioterapia nem é tão ruim assim. Ontem foi minha primeira sessão e eu me sinto ótimo! Acho que a mamãe e o papai pensavam que a quimioterapia era um bicho de sete cabeças porque ficaram o tempo todo checando se eu tava bem, se tava com cara de vômito, falando com os médicos, com as enfermeiras...
Hoje de manhã já voltei pro flat (que é minha nova casa). Estou superanimado porque a dra. Clara disse que eu posso passear e me divertir fora de casa. Mas aqui em São Paulo tá chovendo e fazendo frio e por isso a mamãe e o papai não querem me levar pra lugar nenhum. Sacanagem, né? Mas acho que é porque eu tô meio gripado e eles querem que eu fique bom logo.
Mas eu tô é com muita saudade dos meus irmãos (até de tu, Zé Luiz!), dos meus avós, da babá, da Ana Lúcia, dos meus tios... Por isso eu vou ajudar o papai e a mamãe a cuidar bem de mim pra eu ficar curado rapidinho e voltar pra casa pra levar uns tapas do Zé Luiz!

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Sum Paulo

Quando chegamos em São Paulo, fomos pra casa da tia Geórgia, do tio Henrique e do meu priminho Davi. Foi muito legal porque lá tem muitos brinquedos e meus tios são muito legais. O Davi ficou com um pouquinho de ciúmes de mim e me deu uns catiripapos, mas também eu roubei os brinquedos dele, o quarto dele, o berço dele, o carrinho dele... Depois viemos pra um flat perto do hospital, porque a casa dos meus tios é bem longe. Pena que aqui perto não tem tantos lugares legais pra passear como no bairro dos meus tios...
Minha primeira consulta no hospital A.C. Camargo foi beeem legal. A mamãe gostou muito da oftalmologista e também das oncopediatras. Uma delas se chama Dra. Clara e eu achei um pouco estranho que ela tem um barrigão, parece até que engoliu uma melancia. Mas minha mãe disse que é porque tem um bebê lá dentro. Eu entrei em pânico - já pensou se ela resolve me engulir também?! Mas agora já me convenci de que ela é legal, assim como a dra. Viviane, que também cuida de mim. Pena que elas têm uma mania de mandar me furar...
Falando em furar... Ontem eu deveria receber minha primeira quimioterapia, daí veio uma tropa de choque vestida de branco pra tentar furar meu bracinho. Nã- nã- nim- nã- não! Não deixei mesmo. Tentaram muitas vezes e eu esperneava e gritava: "Parem com isso! Não sou um porta-alfinetes! Sou um menino!" Mas parece que naquele hospital ninguém fala a língua dos bebês! Eu vi pela cara da minha mãe [a essa altura meu pai já tinha escapado do quarto, claro!] que ela já ia mandar toda aquela tropa pr'aquele lugar. Mas aí a dra. Clara mesmo disse que já bastava e que ninguém ia mais mexer em mim. Não disse que essa barrigudinha era porreta? Então hoje de manhã me deram um cheirinho pra dormir e colocaram um caninho no meu peito. Assim não vão ter que me furar a cada 21 dias. À tarde recebi a tal quimio e sabe de uma coisa? Não senti nada! Nem enjôo! Claro que colocaram uns remedinhos anti-enjôo, né? Mas eu só tô mesmo sonolento. Acho que agora vou dormir, de novo!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Continuando...

Agora que já tirei uma soneca e já papei uma comidinha gostosa, vou continuar minha história. Onde eu tinha parado mesmo?
Ah! Lembrei: depois que descobriram que eu tinha esse tumor na retina, meus pais decidiram que eu seria tratado em Teresina mesmo. Eles não queriam ficar longe dos meus irmãos e nem me tirar do meu ambiente. Além disso, o oftalmologista que trata de retinoblastoma em Teresina é o Dr. Ednaldo Átem e minha mãe tem a maior confiança nele porque ele é médico de todo mundo na casa da minha avó desde que minha mãe era criança. Então já estava resolvido: a batalha contra o monstro caranguejo seria travada em Teresina, com a ajuda do super doutor Ednaldo! Muita gente aconselhou a mamãe e o papai a correrem pra São Paulo comigo, mas eles tinham medo de ir pra um lugar onde não conheciam nenhum médico e também sabiam que eu estaria em boas mãos em Teresina.
Mas essa certeza só durou até a primeira consulta com a oncopediatra. Eu não sei bem o que aconteceu porque eu tava dormindo no consultório dela. Só sei que no caminho pra casa minha mãe e meu pai já estavam planejando a vinda pra São Paulo. Se você conhece minha mãe, sabe que não é muito legal vê-la nervosa. E nesse dia, depois da tal consulta, ela tava botando fogo pelo nariz. Como já disse, não sei bem porque. Só sei que ela e meu pai falaram em anti-ética, fria e grossa. Ainda bem que meu pai tem a cabeça mais fria e consegue acalmar minha mãe.
Dois dias depois, com a aprovação do dr. Ednaldo, entrei num avião pra São Paulo com meu pai e minha mãe. Na conexão em Fortaleza, minhas tias Gueira e Rita vieram brincar comigo e conversar com meus pais. Minha primeira viagem de avião foi bem legal.

E no princípio era o brilho...

Há alguns dias atras, minha mãe e meu pai perceberam um briho diferente no meu olho direito. Minha tia Ângela tinha comentado que havia visto um comercial na TV com a Ana Paula Arósio em que ela chamava a atenção dos pais para um reflexo branco que aparecia nos olhos, nas fotos tiradas com flash. Era uma sexta-feira quando minha mãe e meu pai se convenceram que havia algo errado com meu olho. Foram olhar as fotos e.. bingo! Lá estava o tal reflexo. Mamãe passou o fim de semana inteirinho pesquisando na internet pra ver se descobria alguma coisa. Infelizmente nessas horas a internet é mais inimiga que amiga, porque minha mãe ficou sem dormir de tanta coisa horrível que leu!
Na segunda-feira fui ao oftalmologista, que não achou nada no meu olhinho, porque minha pupila não havia sido dilatada e esse tumor é mesmo safadinho: ele brinca de esconde-esconde atrás da pupila fechada. Foi decidido então que eu teria que fazer um tal de mapeamento de retina, e na mesma semana o problema ficou evidente: entre exames de fundo-de-olho, tomografias, ultrassonografias e sedações de todos os tipos e modelos, os médicos acabaram chegando ao diagnóstico. Tenho um tal de retinoblastoma, um tipo de câncer que só acontece com criança. Para meus pais foi um choque enorme. Eu mesmo não percebi nada, só tava mesmo de saco cheio de tanto ir em médico.
Sabe de uma coisa? Esse post já tá muito grande e eu tô ficando com soninho. Mais tarde continuo a contar essa história.